quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A fogueira...

Reverencio os poderes da água e do fogo, mas me pergunto: o frescor das águas da chuva não anula o calor do fogo que aquece a aldeia?
- Bela guerreira… Venha comigo. Aproxime-se da fogueira. Deixe-se aquecer… Agora, lance
seu olhar para os horizontes da aldeia. Neles, perceba formas e essências. Dê-me sua mão…
Vamos nos aproximar delas, mas caminhe dentro do córrego. Junto às minúsculas belezas que o povoam. Sinta, sob seus pés, a textura das pedras que, aveludadas pelas transparentes águas, descansam no pequeno leito. Pronto… Deixe o córrego prosseguir seu percurso e venha até uma das generosas árvores, cujas sombras abrigam os animais e refrescam o caminho dos guerreiros e guerreiras que por aqui passam.
Prove as frutas… Tenha a experiência dos sabores.
Olhe agora para o alto, para além dos pássaros que sobrevoam este instante. Inspire, calmamente, o inconfundível perfume da chuva que se aproxima…
Sinta os pingos que já começam a tocá-la… Deixe-se molhar… Deixe-se molhar…
- São instantes mágicos… Inesquecíveis…  Lembrei-me da fogueira que aquece a aldeia…
Em alguns instantes, ela se apagará com a chuva… Até que seja novamente acesa…
- Sim… Essa é a resposta… 
A fogueira sabe que tudo passa, tudo se transforma…
Mesmo ela… 
Por isso, como você, silenciosamente, deixa-se molhar…

( Xamã Ererê)