...tem tantas portas de palco quantas queiram, dez, cem ou mil, e atrás de cada uma espera-lhes precisamente aquilo que andam a buscar.
É uma formosa lanterna mágica, meu caro amigo, mas de nada valerá recorrer a ela nas condições em que se encontra.
Você se veria impedido e deslumbrado por aquilo a que se acostumou chamar de sua personalidade.
Sem dúvida já terá adivinhado há algum tempo que o domínio do tempo, a libertação da realidade e tudo aquilo que deseja chamar de seu anseio, não significa outra coisa senão o desejo de libertar-se de sua chamada personalidade. Tais são as prisões em que você se encontra. E se entrasse neste teatro assim como está, assim como é, acabaria por ver tudo com os olhos de Harry, com os velhos óculos do Lobo da Estepe.
Por isso, convido-o a despojar-se desses anteparos e deixar no vestíbulo a sua honrada personalidade, onde estará à sua disposição a qualquer momento que assim o desejar.
(...) Você vai entrar agora, sem receio e com verdadeiro prazer em nosso mundo visionário; conseguirá isso por meio de um suicídio aparente, de acordo com o hábito.
(...) Mas, naturalmente, seu suicídio não é definitivo, de maneira alguma; estamos num teatro mágico, onde tudo não passa de símbolos, onde não existe nenhuma realidade.”
trecho de “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse
trecho de “O Lobo da Estepe” de Hermann Hesse