sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

A canção do delirante Aengus

A canção do delirante Aengus


Eu fui para uma floresta de nogueiras, 

Porque minha mente estava inquieta, 
Eu colhi e limpei algumas nozes,
E apanhei uma cereja, curvando o seu fino ramo;
E, quando as claras mariposas estavam voando,
Parecendo pequenas estrelas, flutuando erráticas,
Eu lancei framboesas, como gotas, em um riacho
E capturei uma pequena truta prateada.

Quando eu a coloquei no chão
E fui soprar para reativar as chamas,
Alguma coisa moveu-se e eu pude ouvir,
E, alguém me chamou pelo meu nome:
Apareceu-me uma jovem, brilhando suavemente
Com flores de maçãs nos cabelos
Ela me chamou pelo meu nome e correu
E desapareceu no ar, como um brilho mais forte.

Talvez eu esteja cansado de vagar em meus caminhos 
Por tantas terras cheias de cavernas e colinas,
Eu vou encontrar o lugar para onde ela se foi,
E beijar seus lábios e segurar suas mãos;
Caminharemos entre coloridas folhagens,
E ficaremos juntos até o tempo do fim do tempo, colhendo
As prateadas maçãs da lua,
As douradas maçãs do sol.

William Butler Yeats

segunda-feira, 14 de março de 2016

Despertar e render-se enquadram os dias e as vidas

Vivemos entre o despertar e a rendição. Todas as manhãs, despertamos para a luz e para o convite de um novo dia neste mundo; cada noite nos rendemos à escuridão para sermos levados ao mundo dos sonhos, onde o tempo não existe mais. Ao nascer, acordamos e emergimos para nos tornarmos visíveis. Ao morrer, nos entregamos novamente à escuridão para nos tornarmos invisíveis. Despertar e render-se enquadram os dias e as vidas; entre eles a viagem onde tudo pode acontecer, a beleza e a fragilidade.

domingo, 8 de novembro de 2015

Devorando o mundo

Nasci com a boca aberta… entrando neste mundo suculento de pêssegos e limões e sol maduro e esta rosada e secreta carne de mulher; este mundo onde a ceia está no hálito do deserto sutil nas espécies do mar distante que flutuam no sonho tarde da noite.
Nasci em alguma parte entre o cérebro e a romã saboreando as texturas deliciosas de cabelo e mãos e olhos, nasci do cozido do coração, do leito infinito, para caminhar sobre esta terra infinita.
Quero alimentar-te com as flores de gelo desta janela de inverno, dos aromas de muitas sopas, do perfume de velas sagradas que por esta casa de cedro me persegue. Quero alimentar-te com a lavanda que se desprende de certos poemas, e da canela de maçãs assando, e do prazer simples que vemos no céu quando nos apaixonamos.
Quero alimentar-te com a terra acre onde colhi alhos, quero alimentar-te de memórias surgindo dos troncos de álamo quando os parto e da fumaça de pinhões que se junta em torno da casa em uma noite quieta, e dos crisântemos na porta da cozinha (…)”
James Tipton

Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses"

Certa vez tive o prazer de observar o momento exato em que a lagarta já dentro de seu casulo ainda maleável entrou no processo de mutação, foi impressionante, o casulo se mexia frenéticamente e eu sabia que ali dentro aquela lagarta sofria "dores terríveis", inevitáveis e necessárias para que pudesse dar o próximo passo. Este momento durou um pouco mais de uma hora, quando então tudo ali acalmou. Alguns dias depois pude flagrar o momento que saía do casulo uma bela borboleta. 
A vida da lagarta/borboleta é muito simples, fatual e previsível, no entanto, analogicamente cabe-nos observar a natureza para tirar lições profundas em nossa caminhada.
Não se desespere e tampouco somatize exageradamente seus problemas e enfrentamentos. Se sofre, se luta, se te preocupa é porque estás vivo, em pleno gozo de suas faculdades mentais, então metamofoseie-se!
É preciso de tempo em tempo fazer o próprio casulo, introspectar-se e deixar-se transformar, isso ocorre no momento que seu foco, seu olhar e sua convicção de realidade passa por uma profunda modificação, uma metamorfose pois se não se libertar de conceitos e posturas que lhe causam tormento, jamais poderá alçar vôo.
Metamorfosei-se e viva em paz! 
Pai Rodrigo Queiroz.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Tribo

No começo éramos uma tribo
Uma tribo onde todos como irmãos compartilhavam suas danças e suas canções
Seu alimento, seu carinho e suas encantarias
Nesse começo, muitas outras tribos e juntaram
E outras e outras
Formando uma clareira só de amor, proteção e realização do sagrado
Entoávamos nossas bençãos e mantras
Brindávamos as primaveras
Meditávamos no céu, na terra e no mar
Isso era assim no começo

Um dia uma onda de energia
Mostrou uma máscara por detrás de um rochedo
Nem todos da tribo foram suficientemente fortes
Nem os que se diziam guerreiros aguentaram as revelações
Como um raio ofuscante acertou todos os membros

Já não eram mais líderes, eram inimigos
E afundaram os clãs com suas mesquinharias e suas fofocas
Frases recitadas no intuito de ferir
Maldições e pregações
Hipocrisias levantas e exaltadas individualmente

Por detrás acusavam e apontavam, na disputa de um só comandar
Como inquisidores só que em um tempo mais primitivo
Todos queriam se beneficiar do caos por mais poder
Palavras que sangravam, palavras que distorciam a verdade
Uma onda de maldade perseguia seus corações

A tribo entrou em guerra
E outras máscaras foram caindo ao redor
Começou-se a perceber que algum cataclisma
Havia provocado algo arrasador

Uma bola de neve vinha rolando e machucando quem estivesse no caminho
Vinha descendo montanha abaixo
Retirando e juntando que estava ali no meio
Fenômeno este que paralisou toda a tribo
Dias depois a aldeia não existia mais

Alguns anos se passaram e os clãs se separaram
Não haviam mais canções
Nem sorrisos

E aqueles que sobreviveram, estavam sozinhos
Uma Era dura e árdua apareceu
Surgiram apenas lembranças de um tempo que todos eram felizes
E essa dor, deixava apenas os dias mais compridos

Desiludidos e desesperançados de um amanhã
Na mesma época de primavera
E no mesmo lugar onde a avalanche devastou
Começaram a nascer novas árvores
E novas formas de vida
Os Deuses apareceram
Se mostraram coerentes
E explicaram a causa de tudo aquilo
"Filhos, a mentira deve cair! Como uma bola de neve que vai rolando e machucando tudo aquilo que estava no caminho.
Porém a verdade, limpa de tudo aquilo que se devastou, faz com que surjam novas possibilidades e vidas completamente sinceras

Que sejamos uma nova tribo, agora mais unida e sem máscaras
Que possamos cantar, subir em nossas novas árvores e caminhar sobre elas
Que possamos celebrar a vida nova que brota, germinando o amor
Que possamos plantar sementes de paz e não dessacralizar nosso caminho"

Assim, os Deuses se despediram subindo na ponta da última árvore mais alta que nasceu
Jogando sementes coloridas por todo campo
E a vida se recompôs novamente...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

domingo, 25 de agosto de 2013

O Bom Pai

Peço proteção ao Grande Dagda enquanto durmo
E viajo para os mundos que frequentemente
Não habito em corpo, mas não desconheço
Mas me é permitido dançar livremente a Grande Canção
Peço a gentileza de me conduzir
Vislumbrar um pouco desta beleza enquanto durmo
Para ser honrada de me alimentar do seu caldeirão
Antes de adormecer, lembro de escutar o som do Suantrai,
Ao dedilhado da harpa do pai de todos
Que durante este breve jornada sonhadora
Eu desperte a sabedoria de rir e chorar
E preparar para as batalhas de um novo dia
Que eu encontre em meus sonhos as respostas
Que tanto procuro quando estou acordada
Que a vibração de suas cordas
Harmonize meu amanhã, hoje e sempre.