quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O Sinal da Deusa do Fogo


(...) "- Aqui nós as duas, mulheres e irmãs, entregamo-nos a ti. Mãe da Vida...
Mulher... E mais do que mulher...
Irmã... E mais do que irmã...
Aqui onde estamos na escuridão...
E sob a sombra da morte...
Invocamos-te, Oh, Mãe...
Pelo teu próprio sofrimento, Oh, Mulher...
Pela vida que transportamos no nosso seio...
Juntas perante ti, Oh, Mãe, Oh, Mulher
Eterna...
E esta é a nossa súplica...

A chama, o que quer que ela fosse, brilhava e esmorecia, brilhava e esmorecia, com a intensidade hipnótica de um vasto bater de coração ao ritmo da invocação murmurada:
- Que possam os frutos das nossas vidas ficar ligados e selados A ti, Oh, Mãe, Oh, Mulher Eterna, que seguras a vida de cada uma das tuas filhas Entre as mãos e
sobre o coração...
E seguiram-se mais palavras que Deoris, assustada e exaltada, não acreditava ouvir.

As duas mulheres caíram de joelhos e depois ficaram prostradas lado a lado. Deoris sentiu o filho da irmã mover-se contra o seu corpo e o seu próprio filho por nascer mover-se fracamente, de uma forma quase sonhada e, num assomo de presciência mágica e insensata, adivinhou um envolvimento mais profundo para além desta vida e do presente, uma onda que avançava em direcção ao mar e que envolveria certamente mais do que aqueles dois... E a glória brilhante que as envolvia transformou-se em voz. Não numa voz que conseguissem ouvir.
Mas em algo mais direto, algo que sentiam com cada nervo e cada átomo dos seus corpos.

- Servis minhas então, era após era, enquanto o Tempo durar...
Enquanto a Vida criar Vida. Irmãs e mais do que irmãs...
Mulheres e mais do que mulheres... Saibam disto, juntas, pelo
Sinal que vos dou...

O fogo extinguira-se e a sala estava muito escura e calma. Deoris, recuperando um pouco, ergueu-se e olhou para Domaris e viu que aquela curiosa luminescência continuava a irradiar dos seus seios e do corpo pesado. O espanto e a reverência abateram-se novamente sobre ela e curvou a cabeça, virando os olhos para si própria... E sim. também ali, brilhando suavemente, estava o Sinal da Deusa..."

Queda de Atlântida / Marion Zimmer Bradley